Empresas descobrem a remuneração variável

Rede de ensino e até clube de futebol profissional começam a adotar o modelo de contratos por produtividade

Empresas descobrem a remuneração variável
Rede de ensino e até clube de futebol profissional começam a adotar o modelo de contratos por produtividade

Nestor Tipa Júnior

 

Cada vez mais, as empresas estão adotando o modelo de remuneração variável para estimular os funcionários no cumprimento de metas estabelecidas de produtividade. Não só grandes empresas do mundo corporativo estão adotando o método, mas outros negócios também entraram na onda de premiar os colaboradores pelo rendimento.

 

No mundo do futebol, uma das notícias mais comentadas na virada do ano foi a decisão do Palmeiras em colocar a cláusula de produtividade para os seus atletas e comissão técnica. O clube paulista foi o primeiro no País a utilizar a remuneração variável, o que causou uma certa polêmica no meio esportivo. A dúvida é como os jogadores, que convivem com altos salários e elevados valores de direito de imagem, iriam lidar com esta novidade.

 

Investidor do mercado financeiro, o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, explica que a ideia é oriunda do mercado corporativo. Um dos objetivos também foi o de preservar as finanças do clube, este que é um dos grandes problemas da maioria dos times brasileiros que hoje arcam com dívidas milionárias. “Entendemos que a compensação baseada na produção é motivadora e auxilia na preservação da saúde financeira do clube”, salienta.

 

O mandatário do Palmeiras afirma que ainda não é possível mensurar com precisão o resultado do modelo, mas que já se pode dizer que esta é uma situação consolidada no clube, visto que praticamente todos os contratos negociados se encaixaram na política. Sobre a avaliação das metas que medem a produtividade dos jogadores e da comissão técnica, Nobre explica que existem variáveis diferenciadas. “No caso dos atletas, os rendimentos aumentam de acordo com a participação deles nas partidas. No caso de treinadores, a variável está exclusivamente ligada às metas estipuladas com a diretoria”, ressalta.

 

A remuneração variável também está sendo aplicada na rede de ensino Estácio há cinco anos. Na unidade de Porto Alegre, pela primeira vez, os professores contaram com esta renda extra baseada nos resultados obtidos em 2013. A gerente acadêmica da instituição, Rejeane Coelho, explica que 25% dos docentes mais bem pontuados em um ranking recebem a gratificação.

 

O objetivo é premiar os professores mais bem avaliados em critérios específicos de desempenho. O benefício integra o Programa de Incentivo à Qualificação Docente (PIQ), que prevê diversas iniciativas para atualizar e estimular os professores da Estácio. Rejeane explica que são usadas avaliações que vão desde nota dos alunos até dos gestores das unidades. “Os alunos analisam o cumprimento dos planos de aula, dos horários e das atividades propostas para o curso. Os coordenadores de curso avaliam a conduta profissional da área que atua e fica por conta dos gestores de unidade a avaliação da rotina de trabalho”, reforça.

 

Conforme a dirigente da Estácio, a política de remuneração é um instrumento de reconhecimento do trabalho e desempenho do professor, além de validar os valores institucionais, especialmente a meritocracia. Os resultados, de acordo com Rejeane, começam a aparecer no dia a dia da rede de ensino, após a primeira premiação concedida. “Alguns professores premiados se sentiram surpresos. Hoje, dentro da nossa rotina, há uma melhora nos nossos processos”, afirma.

 

 

Regras devem ser claras, alertam especialistas

 

A adoção da remuneração variável traz benefícios para empresas e funcionários, mas pode se tornar uma dor de cabeça caso não haja clareza nas regras estabelecida. Segundo especialistas da área de recursos humanos e jurídicos, tanto o empregado quanto os empregadores precisam estar cientes dos seus direitos e deveres.

 

Para o diretor de Desenvolvimento da ABRH-RS, Nelson Bitencourt, o método de remuneração variável precisa ter absoluta transparência. “É um processo de confiança mútua, no qual eu tenho indicadores que precisam ser transparentes para ser um processo motivador. Se não for assim pode virar um processo sabotador”, afirma.

 

Bitencourt acredita que a grande vantagem é que quem se doa mais é reconhecido e vai continuar entregando mais para se situar melhor dentro da empresa e garantir uma remuneração maior. Isto motiva os demais funcionários que começam a perceber valor no processo. O dirigente da ABRH-RS, no entanto, indica que, dependendo do tamanho da empresa, o processo de implantação da remuneração variável é diferente. “Na pequena empresa, é preciso envolver todas as pessoas em toda a medida. Nas médias, o ideal é eleger pessoas de cada área para integrar o processo. Já nas grandes, o indicado é contratar uma consultoria porque não há como fazer tudo, é um grande número de variáveis que não se consegue controlar”, indica.

 

Especialista na área do direito trabalhista, o advogado Raimar Machado alerta os trabalhadores que toda a base de cálculo é feita em cima do valor variável que é pago pela empresa, e que é comum que alguns empregadores façam as contribuições apenas pelo salário fixo. “A totalidade da remuneração é base para o cálculo de todos os direitos sobre o salário”, informa.

 

Outra questão levantada por Machado é que o estabelecimento de metas de produção pode, em determinados casos, correr o risco de ilegalidade, pois é preciso verificar a viabilidade e condições para atingimento dos objetivos. “É preciso saber se não houve nada feito pelo próprio empregador para impedir o cumprimento da meta. Muitas vezes funcionários não conseguem chegar ao objetivo por dificuldades que não dependiam deles e, neste caso, o empregado pode recorrer ao direito igual de recebimento”, explica.

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